Thursday, October 25, 2007

1- Crie uma imagem de como você queria que ele fosse.
2- Crie um ambiente detalhado e sofisticado, com toques rústicos e românticos. Com vários presentes da tecnologia pra controlar temperatura, umidade, música de fundo, claridade.
3- Crie uma situação dramática de um encontro entre você e a imagem.
4- Crie frases de efeito, caras, bocas, reações.
5- Crie variações de tudo o que você criou.
6- Crie uma nova situação pra suceder essa.
7- Crie novas reações pras situações verdadeiras onde vc se encontra com a pessoa real, mas na condição da imagem.
8- Crie variações das situações reais que você vive, exatamente no momento em que você as vive.
9- Crie possibilidades, planos pro seu futuro tendo como base todas as imagens que mais te agradaram acima.
10- Pratique esses exercícios em tempo integral até que você se desligue completamente do que está de fato acontecendo.

Resultado: Você aprende a realmente viver de sonhos, suas relações com as pessoas de verdade irão desaparecer aos poucos, você perde o controle sobre a sua vida (isso inclui presente e futuro). E se você fizer direito, vai 'viver' os momentos mais lindos e intensos da sua vida. Mas é tudo mentira.

Tuesday, October 23, 2007

Seguir uma linha de raciocínio, contar uma história ou só descrever um fato é quase impossível sem que eu desvie completamente do objetivo e solte pensamentos paralelos e ilógicos. Mas talvez eu consiga te contar tudo. O importante é deixar claro o que eu sinto diante do acontecido pra você não me odiar. Pelo menos eu espero que não me odeie.

Você quer saber o que tive com seu namorado. No começo ele era só seu amigo. Há anos seu amigo, sempre ao seu lado, mas te amando em segredo. Eu vim depois na sua vida e na dele. Daí aconteceu o que aconteceu entre nós duas. Já leu o conto ‘Frederico Paciência’ do Mário de Andrade? Não? É mais ou menos assim: o Juca conhece o Frederico, que no início é um cara lindo, maravilhoso, seguro, poderoso, etc; enquanto o primeiro é fraco e inseguro. Ao meu ver é como se o Juca fosse um vampiro, que ao longo do conto suga Frederico, deixando “só a capa” como dizem. Claro que isso tudo pode ser só impressão minha, o que é outra coisa bem estranha, se eu dissesse mais o que penso seria menos surpreendente. E não é surpreendente de uma forma positiva nunca.

O conto do Mário. Bom, não sei como explicar, mas no começo eu era o Juca. Depois me tornei Frederico e você Juca com dois Fredericos: eu e ele. Cada minuto perto de você era tão bom e fazia tão mal que eu me revezava em te classificar como sagrada ou infernal. Você é um poço. Mais Fredericos e você ainda com sede, sempre com sede e olhos chorosos por mais. E todo mundo se apaixona por essa falsa carência. Ta difícil de entender ainda.

Pra mim foi fácil, demorou um ano? Mas foi fácil e divertido esse draminha todo. E foi cansativo. Mas vendo de fora, você fazer com ele, pareceu tão cruel. Poxa, ele era tão legal. E você sacaneando o cara toda vez que a gente saía! Ficava dando esperança, brincando e ele lá sofrendo. Há quantos anos você faz isso? E ele já tinha problemas demais pra ter que agüentar mais esse.

Falei pra ele te contar tudo de uma vez, pensei que você fosse fugir como sempre. Daí ele desencanaria de uma vez e você ficaria sozinha. Sem ninguém pra brincar, pelo menos por um tempo. Por que diabos você ficou com ele? E depois de tudo, como foi que ele te quis?

Pois é, tudo isso me deixou incomodada. É incrível como umas coisas insignificantes me incomodam profundamente. É como uma pedra pequena no sapato, que apesar de ser pequena incomoda horrores! Vocês dois juntos começaram a incomodar bastante. Não consegui descobrir se era ciúmes de você, dele ou dos dois. Provavelmente essa angústia toda era pelo simples fato de eu não concordar.

Eu tinha comprado um remédio bem forte pra barata. Tava em casa, sem nada pra fazer, tomando vinho. Desde pequena misturo coisas pra ver se dá reação ou só pra misturar mesmo. Também tenho mania de mexer com fogo. Mas foi só isso. Pequei o veneno e misturei com um pouco de vinho.

Ele tava passando por lá, foi o que disse. Entrou, conversamos, fui ao banheiro. Ele não bebe, né?! Bebeu a taça todinha. Ninguém duvidou, claro. Mas o que ele foi fazer lá? Aí vem essa parte mais terrível. Ele te viu com outro cara. Que coisa! Depois de tudo você teve a cara de pau de trair!

Isso ta parecendo filme, né?! Pra mim, a responsável pela morte dele é você. E foi você quem chorou no enterro. Eu não entendo muito bem esse tipo de atitude. Você maltrata e acha ruim quando perde?! Que absurdo. Dizem que é típico, eu não consigo achar essas coisas normais. Acho péssimo.

Eu consigo te deixar imóvel com essa agulha e ninguém sabe que eu mexo com isso. Mas a situação entrega o homicídio. Agora que eu comecei, seria estranho não terminar. Provavelmente você só vai ficar com sono por conta do gás. Eu tenho álibi, ou dinheiro, dá na mesma.

Então, só pra você saber, eu não faria nada disso se eu realmente não acreditasse que é para o bem geral. É uma forma de evitar mais coisas ruins. Cortar o mal pela raiz, sabe?! Me incomoda o risco que eu corro, mas eu sou generosa. E rica.
Linda, isso vai ser melhor pra todo mundo. Beijo. Eu acho que ainda te amo. Tchau, linda.





(quase uma piada interna. uhul!)

Sunday, October 21, 2007

Perdi a consciência do tempo. Quando foi que isso aconteceu?

Sunday, October 14, 2007

Ficou sentada olhando tudo se afastar. Os pés apertando o chão, as mãos espalmadas nas pernas. "Tchau" repetia consigo num tom melancólico e baixo. Eles sorriam e iam, todos juntos, um grupo. "Tchau..." ela pensava em se despedir, talvez não tivessem plena consciência do distanciamento. A luz brilhava nos olhos deles, as cores das suas roupas eram mais vivas do que tudo em volta dela. Já podia sentir o suor das mãos nervosas atravessar a calça e queimar a pele. O vento seco e frio cortava o rosto e as lágrimas ardiam nas bochechas vermelhas de sangue. O líquido vermelho começou a pingar, respirava fundo como se o ar faltasse, não sabia onde estava machucada, o coração disparava, a neblina já tampava quase tudo. Levantou-se, queria correr atrás, as pernas tremiam, caiu no chão. "Tchau", dizia pra si mesma, olhando o sangue nas mãos. Fechou os olhos, esperando acordar logo.
what I really need is what makes me bleed

Saturday, October 13, 2007

Pegue um elemento qualquer do seu dia a dia e transforme-o em algo grande. Não precisa ser verdade, você nunca vai saber o que na sua vida é verdade ou mentira. Invente detalhes, sentimentos, sensações. Acredite nas suas invenções. E quando alguém te perguntar, é fácil dizer que você só disse o que disse pra diminuir o tédio. O mundo não é belo sem mentiras.


memento mori

it's better to burn than fade away
and we're gonna burn, right, lohan?

Sunday, October 07, 2007

Acordou num susto seguido de conforto. Os olhos, agora mais brilhantes, viam seus contornos se insinuarem à pouca luz que atravessava a cortina escura. A mão sentia o cabelo que lhe parecia mais macio, a outra percebia seu seio mais orgulhoso e sua barriga mais desejável. Sentia-se bem.
Ao levantar, o calor da manhã abraçou seu corpo e sua alma. Ela transbordava auto-confiança, determinação, poder e desejo. Desejava, com água na boca, tudo o que via pela frente, num desespero insano de consumir o mundo tornando-se o todo. O ar trazia a sensação de que agora ela deixaria de ser um elemento de fora do círculo para se tornar o eixo dele. Ela respirava esse ar como se fosse acabar a qualquer momento. E se enchia de tudo isso.
O sabonete deslizava pela sua pele numa maciez invejável. Ela sentia tudo, desejando a si como ou mais que qualquer um que realmente a visse desejaria. A água lavava o plano físico e o espiritual, levando consigo qualquer vestígio de insegurança que poderia existir.
Tudo era novo. Aquela sensação de inclusão no mundo que invadiu seu quarto para levá-la pra fora era o que mais emocionava. Sentiu o reconhecimento da sua importância nascendo com o sol.
Andava na rua sorrindo, com o olhar voltado para dentro, observando o orgulho de ser quem era. Ansiosa por sua chegada, imaginava variações detalhadas dessa cena para se distrair ou se concentrar na sensação gostosa. Quem ela encontraria antes de chegar, com quem ela entraria conversando, quem se levantaria para lhe dar um abraço de bom dia, quem confiaria assuntos pessoais mostrando confiança.
- Bom dia!- ele diria.
- Bom dia!- ela, com um sorriso.
- Sonhei com você...
- Sério?! Como foi?
- Não me lembro direito, mas acordei com saudades. O que vai fazer hoje?
- Acho que nada.
- Vamos sair! Eu quero falar com você, posso te ligar?
- Claro.
Ele estaria apaixonado. Aquele tipo de paixão que faz a pessoa segurar o seu rosto com as mãos espalmadas e dizer "você é minha vida" ou "eu não aguento passar mais um minuto longe de você", isso antes de um beijo com abraço apertado daqueles "você não vai mais embora".
Ela se sentou na cadeira imaginando os dois se vendo em público, fingindo que não tinham nada um com o outro. Imaginou os olhares intensos de um segundo e a adrenalina desse jogo delicioso. Imaginou a vontade escondida de que a aula chegasse ao fim para poderem sair dali e se abraçarem por horas. Imaginava uma daquelas discussões bobas de ciúmes "cala a boca! pára! você tem que entender que eu sou louco por você e não consigo lidar com a idéia de te perder! eu não consigo!". Depois se beijariam, se amariam, tomariam uma taça de vinho tinto e conversariam o resto da noite sendo acariciados pelo vento. Dormiriam sem perceber, deitados no sofá-cama com a tevê ligada num filme francês. No outro dia se comportariam como se não existisse nada além da sala de aula, se olhariam discretamente pelos corredores. Pensariam um no outro nos momentos possíveis e se encontrariam novamente no plano dos sonhos. E o tempo trataria de legalizar sua relação, podendo enfim sair e viajar juntos.
-Bom dia, gente. - ele chegou.
-Bom dia, professor.
Ela se deu conta de que chegou e iria embora sem ser notada. Refez a manhã rapidamente e não se lembrava de ter ouvido algum cumprimento antes desse. Olhou em volta e todos conversavam e sorriam entre si. Ela estava no canto, sozinha, com o semblante esquizofrênico de costume. Doeu um pouco a queda da sua auto-confiança, doía voltar a odiar cada centímetro quadrado/cúbico de si e cada unidade de medida da sua alma podre. Decidiu que voltar a sonhar, apesar de insensato, era mais conveniente.
O filme de drama romântico mais intenso que ela viveu passou naqueles cem minutos das duas primeiras aulas com o professor. Sorria, ficava séria, os olhos brilhavam numa variação de sentimentos explícitos e ela parecia uma espécie de louca sentada na cadeira separada.