Thursday, August 31, 2006

- Boa noite.
- Boa noite.
- Com todo o respeito, venho te observando já há quase uma hora. Você é muito bonita, posso saber o seu nome?
- Violet.
- Muito prazer, Violet, meu nome é Josh.
*aperto de mão*
- Como eu estava dizendo, você é muito bonita. Tem um olhar misterioso, eu apostaria numa certa melancolia ou nostalgia. Tudo bem com a srta. ?
- Você vai me oferecer um drinque?
- Ah, perdão, claro! Gosta de beber o que?
- Pode ser um martíni, com cereja.
- Que meigo, diria até sugestivo. Cerejas me lembram hedonismo. Achei engraçado seu jeito de cobrar o drinque, haha, mas está certíssima! Seria falta de cavalheirismo da minha parte não oferecer, eu pretendia mesmo fazê-lo.
- E o mundo sorri.
- O que?
- Tá frio hoje, não?
- Toma meu casaco...
- Não precisa, vou só terminar o drinque e dançar. Espero que a próxima música seja melhor do que essa.
- E a srta. me concede o prazer da sua companhia na pista de dança?
- Claro, a você e aos outros tantos que se esbarram nessa boate lotada.
- Você é engraçada.
- Você é executivo?
- Não, por quê?
- Sua roupa e o jeito de falar.
- Ah sim, eu gosto de andar vestido desse jeito.
- Nesse calor?
- É frio na minha cidade, a maioria das minhas roupas são quentes.
- De onde você é?
Ela vira a taça e se levanta para dançar. Ele faz o mesmo, seguindo-a, pensando em como vai explicar a incrível atração por aquele olhar. Atração que não era pouca. Ele, elegante e bonito, nos plenos 27 anos, novo e rico. Passou a noite toda recusando olhares de outras, concentrado unicamente naquele olhar melancólico mais perdido, que não se fixava em ponto algum. Olhar daquela garota que havia se levantado para dançar sempre que um novo cara aparecia pra tentar conquistá-la. Mas ela até aceitou, ou pediu um drinque pra ele, seria um bom sinal? Talvez. Mas aquele olhar não mudava nunca.
Ela nem dançava tão bem, tinha um jeitinho desengonçado e engraçadinho de se mexer, umas roupas exóticas que valorizavam suas curvas proporcionais e na medida perfeita, cabelo preso num coque com fios espetados e franja de lado enfeitando o rosto juntamente com outros fios repicados. O vestido era tomara-que-caia, preto, tampado na frente com uma fina faixa roxa enrolada pelo corpo prendendo bem nas costas, terminando num laço de menina, na cintura. E esse laço apertado na cintura realçava ainda mais seu quadril e pernas de mulher, sendo curta e bem rodada. Uma meia arrastão e uma sapatilha de boneca. No pescoço uma gargantilha de brilhantes. Na orelha, várias argolinhas pequenas e finas prateadas.
De repente a música muda e ele percebe que durante toda a "dança" ele havia ficado parado, observando a menina-mulher. Ela passou por ele rindo e foi se sentar.
- Você não sabe dançar ou é tímido demais pra isso.
Ele responde, mentindo, sem graça:
- Eu não sei dançar.
- Eu também não. Vou buscar mais um drinque, você quer alguma coisa?
- Sou eu que vou pagar? Faço questão...
- Claro!
- Então me traz o que for pegar pra você.
Ele espera com milhares de dúvidas na cabeça. O contraste do sorriso com o olhar dela tirava o seu fôlego. Aquele jeitinho de menina naquele corpo maravilhoso de mulher. Aquele rosto angelical naquela roupa afrodisíaca. Ela tinha cortado todos os outros caras e estava sendo um tanto simpática agora. Ele sempre se interessava pelas mais estranhas. Ela não estaria conversando com ele só pelos drinques, poderia conseguir de graça se quisesse. Aquele olhar...
- Voltei. Toma, espero que goste.
- O que é isso?
- Toma! - diz virando mais essa taça.
- Você bebe muito.
- Nada.
- Posso fazer uma pergunta?
- Você é engraçado. Faça, só não garanto a resposta.
- Eu não sou idota, menina, mas se você não for responder eu não vou perguntar. É uma pergunta simples.
- Pergunte. E não me culpe se não gostar da resposta.
- Quantos anos você tem?
- Dezesseis. - ela diz nitida e vagarosamente.
Ele não diz nada. Ela se perde olhando para a multidão, observando as expressões hipócritas de falsa alegria que todos trocavam entre si. Observa degustando cada movimento, cada olhar, cada beijo, cada dança, cada movimento labial. E cai numa gargalhada de alto volume, abafada pelo som daquele lugar estranho.
- O que foi?
- "Eu te amo!" Ele disse - ela aponta - "eu te amo" praquela garota que chegou há uns dez minutos! Eu não acredito, que absurdo! Ele disse "eu te amo" pra ela, sério! E ela acabou de chegar!
- Já pensou que ela pode ser a namorada dele?
- É bem provável que seja, já que a maioria das mulheres aqui estão à procura de sexo. Ele não precisou de uma declaração pra agarrar aquela outra que ele agarrou há uma hora atrás. E sabe-se lá aonde ele foi com ela!
- Você não tem muito o que fazer, né?! Fica observando todo mundo, criticando com esse seu olhar, ignorando quem está perto de você. Como é que você conseguiu entrar aqui? Identidade falsa? Eu não acredito que paguei um drinque pra uma menina, uma criança de dezesseis anos!
- Você não pensou na minha idade na hora de pagar, não pensou na minha idade na hora de ficar me observando dançar, não pensou nisso enquanto observou cada detalhe da minha roupa, do meu corpo, da minha boca. Tenho certeza que não vai pensar em nada disso na hora te tentar me levar pra cama, então joga fora essa hipocrisia e faz o que você está pensando em fazer desde que veio falar comigo! - ela disse com uma estúpida serenidade, mantendo seu olhar misterioso.
Ele levantou, puxou ela da cadeira e apertou aquela menina-mulher entre seus braços, iniciando um beijo fervoroso. Aquele corpo de criança, pequeno, indefeso, entre braços fortes de um homem mais velho e experiente.
Entraram no carro.
Depois de saciado, ele a levou pra casa. Não trocaram nenhuma palavra depois da última fala dela na boate. Não trocaram um beijo carinhoso ou sincero. Dois cúmplices no prazer, inimigos da alma. Sem respeito algum se invadiram a fim de terminar logo com o que tinham começado, derramando gotas de suor e algo mais. Ele a levou pra casa, como se ela fosse uma prostituta, comprada por drinques baratos.
Embaixo do chuveiro a água quente lavava seu corpo de mulher e as lágrimas ainda mais quentes levavam consigo, ralo abaixo, um pouco da dor de sua alma de menina que não sabe dizer o que é amor. Na cama ela se enrolou, abraçou o travesseiro com força, chorando ainda mais. No outro dia seus pais saíram pra um almoço em família. Ela acordou sozinha, dando graças a 'deus' pela solidão a qual ela estava desde pequena acostumada.
Josh trocou o lençol e as fronhas, impressionado com o quanto aquela puta suava. O "suor" era tanto que até o travesseiro estava molhado por baixo das fronhas.

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