Meia noite. Ela chega em casa exausta (psicologicamente) e um pouco alterada, depois de tomar vinho. Por algum motivo, as coisas de sempre vêm fazendo um efeito maior e pior que o normal. Que coisa! Ela deveria estar acostumada! Mas ela não aguenta mais brigas, indelicadezas, nada assim. E ela não tem mais coragem de pedir ajuda ou de confessar que está triste. Não quer que ninguém a veja chorando. E mal sai de casa, alguém faz ou diz alguma coisa extremamente imbecil. O jeito é não sair. E se ela fica sozinha, aquela sensação de sempre piora. Fica lá, no cantinho, desejando um abraço e nada de palavras. Mas não tem coragem de pedir, ninguém a não ser um desconhecido passando na rua poderia fazer isso com perfeição. E o pior é que quando está andando na rua, quase correndo, segurando pra não chorar... fica pensando em como seria ganhar um abraço ali, sem motivo, sem palavra. E depois continuar andando, como se nada tivesse acontecido, mas mais aliviada. E corre, e chega, e não queria ter chegado, nem sabe direito o que quer, mas não é nada que tem ali, na sua casa. E quando lembra que lá tem alguém, para na porta pra arrumar o rosto e não ter que responder se estava chorando. Entra em casa sorrindo e brincando, com perfeição. Ela sabe muito bem distrair as pessoas, pra não perguntarem nada sobre seu estado psicológico. Além do mais, ninguém quer realmente saber. E se ficarem sabendo, dirão coisas ridículas, tendo como ponto de vista o próprio umbigo.
Enfim... Chegou em casa, por volta de meia noite. Pensando em tudo que dava pra pensar, sem ordem, sem lógica, com toda lógica do mundo, toda desajeitada e descontrolada como sempre. Caiu na cama com um peso maior, bem maior que o do corpo. Não conseguiu mais segurar, mas tudo bem, estava sozinha no quarto. Mas, psiu!, não podia fazer barulho. É melhor não chorar. Precisava de algo... Precisava ouvir uma voz. Mas estava sozinha. Aliás, tinha uma pessoa, mas a última que quereria saber da sua tristeza. Resolveu ligar pra alguém com quem não falava há muito tempo, alguém que não se importasse nem um pouco, alguém que não perguntasse muito e que não ficaria triste por ela. Achou! Ela, definitivamente, era praticamente insignificante pra ele. Apesar dela desejar muito tê-lo como amigo. Pensou... não está tão tarde assim. Ligou.
-Oi.
-Oi. Quem é?
-É a Violeta.
-Violeta... que violeta?
(confirmada a sua insignificância, prosseguiu)
-É a que fala com você pelo msn...
-Violeta Baudelaire?
-É...
-Não é não!
-É que a minha voz fica estranha mesmo pelo celular... Você tava dormindo?
-Tava. Cheguei de Caldas hoje. Você tá bem? Olha... a minha bateria tá acabando, então se desligar...
Desligou. Sozinha novamente, lembrou que poderia abafar o grito desesperado com as cobertas.
Wednesday, November 29, 2006
Tuesday, November 21, 2006
Saiu da escola, sorrindo claro, como sempre. Nada demais, só mais um dia de aula, ficar em casa, estudar e tals... O de sempre.
Ela nem precisava mais pensar pra andar, o corpo ia sozinho, tudo bem mecânico mesmo.
E isso doía incrivelmente. Mas era normal.
O problema é que ia ficando mais difícil. Ela tentava forçar, mudar a cara de tristeza fazendo caretas bobas. Ela sabia que tinha muita gente passando por ela, mas ela não via, só conseguia olhar pra baixo. Afinal, só precisava ver o chão mesmo, pra não tropeçar. Os olhos quase fechados de cansaço e falta de vontade eram completamente justificáveis, já que a luz do sol tinha esse efeito mesmo. Êpa! O dia tava nublado... De qualquer forma, tinha luz, muita luz.
Olhando pro chão... degrau, desce, calçada, asfalto, pula a divisória, brinca, grama. Grama... tudo que queria era cair nessa grama, jogar todo aquele peso no chão, o fichário, tudo, sem medo de estragar... Cair, só cair naquela grama verde e convidativa... Um pedacinho curto de natureza que passou pra asfalto. Ai ai, vontade de voltar e cair, só cair mesmo, passar a mão na cabeça, respirar... Talvez ficasse mais fácil voltar a andar depois. Mas as pessoas achariam estranho. Ou pior, poderiam falar com ela. Anda, tá chegando.
Vontade de chorar... Ai! Olha que casa bonita... queria mudar de casa. Mudar de casa... mudar qualquer coisa mesmo. Só pra mudar. Mudar o caminho de volta, mas isso poderia torná-lo mais longo. Eita! O cara no carro tá olhando! Apressa o passo, anda, olha pro chão.
Chega...
Chegou, que bom, agora poderia descansar.
Chegou, droga, não aguentava mais isso.
Come, chatice, até a comida é sempre a mesma. Okay, sejamos moralistas, tem gente que não tem o que comer. Deve-se agradecer. Come.
E agora?
O de sempre.
Ela nem precisava mais pensar pra andar, o corpo ia sozinho, tudo bem mecânico mesmo.
E isso doía incrivelmente. Mas era normal.
O problema é que ia ficando mais difícil. Ela tentava forçar, mudar a cara de tristeza fazendo caretas bobas. Ela sabia que tinha muita gente passando por ela, mas ela não via, só conseguia olhar pra baixo. Afinal, só precisava ver o chão mesmo, pra não tropeçar. Os olhos quase fechados de cansaço e falta de vontade eram completamente justificáveis, já que a luz do sol tinha esse efeito mesmo. Êpa! O dia tava nublado... De qualquer forma, tinha luz, muita luz.
Olhando pro chão... degrau, desce, calçada, asfalto, pula a divisória, brinca, grama. Grama... tudo que queria era cair nessa grama, jogar todo aquele peso no chão, o fichário, tudo, sem medo de estragar... Cair, só cair naquela grama verde e convidativa... Um pedacinho curto de natureza que passou pra asfalto. Ai ai, vontade de voltar e cair, só cair mesmo, passar a mão na cabeça, respirar... Talvez ficasse mais fácil voltar a andar depois. Mas as pessoas achariam estranho. Ou pior, poderiam falar com ela. Anda, tá chegando.
Vontade de chorar... Ai! Olha que casa bonita... queria mudar de casa. Mudar de casa... mudar qualquer coisa mesmo. Só pra mudar. Mudar o caminho de volta, mas isso poderia torná-lo mais longo. Eita! O cara no carro tá olhando! Apressa o passo, anda, olha pro chão.
Chega...
Chegou, que bom, agora poderia descansar.
Chegou, droga, não aguentava mais isso.
Come, chatice, até a comida é sempre a mesma. Okay, sejamos moralistas, tem gente que não tem o que comer. Deve-se agradecer. Come.
E agora?
O de sempre.
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