Friday, July 21, 2006

Eu estava na piscina. Era quase noite, pouco antes do pôr do sol. O dia estava um pouco nublado, 23 graus no máximo. A água da piscina era aquecida, límpida, convidativa. Envolta da área onde ela ficava haviam flores e plantas coloridas, mais ao fundo a praia de areia branca, gelada e águas azul-esverdeadas, frias, não se observava movimento algum.
Dobrei os braços na beira da piscina que estava virada para as outras casas, do meu lado direito a praia, do meu lado esquerdo uma bancada onde guardavam bebidas, controlavam o som; e atras te mim o sobrado onde eu estava hospedada.
Não tinha nenhuma pessoa física além de mim, no entanto, eu não estava sozinha. Muito pelo contrário, todos os meus demônios, os meus medos, os meus desejos mais ocultos, as minhas vergonhas... tudo estava girando a minha volta, me atormentando. E meu anjo, sentado mais a frente, longe, com seu olhar me dizia para ter calma. Eu o via nitidamente, por trás dos vultos cinza-esverdeados, cor de musgo... Ele com toda a sua beleza inefável, sorria com os olhos, me acalentando.
E foi embora com o vento frio daquela quase noite.
Mas eles nunca me deixavam. E agora a minha atenção se voltava a eles, sem saída, sem volta. Eles existiriam e sempre estariam lá, mesmo que eu me recusasse a olhá-los. Os meus desejos ocultos vestidos de Afrodite, dançando sensualmente com meus medos, sem forma alguma. O casal rodeado pelos célebres músicos demônios, que tocavam um estridente violino, acompanhados pela voz lírica e triste da vergonha... me rasgando inteiramente por dentro.
O vento gélido e mórbido batia forte no meu rosto, fazendo meus olhos lacrimejarem... lágrimas tão frias quanto ele.
Virei, apoiando meus cotovelos na beira da piscina, olhando agora o sobrado. Os raios avermelhados do recente pôr-do-sol ainda refletiam ao longo da minha vista, proporcionando uma curta sensação, onde o calor do sol me abraçaria, interrompida pelo vento gelado empurrando minhas costas.
Perdi o pôr-do-sol!
Virei apenas o pescoço para o lado esquerdo, onde agora se localizava a praia. O show das luzes do céu se misturando com as cores da água, em contraste com a areia branca me proporcionaram um momento único. Um momento lindo. Sem vultos, sem anjo. Um momento de união com algo maior. Mergulhei na piscina, aproximando da borda virada para a praia, a fim de aproveitar melhor a vista... E quando levantei, a mágica havia me deixado sozinha. Completamente sozinha.
O vento gelado me fez perceber a intensidade do calor das lágrimas que agora dançavam aos pares pelo meu rosto, caindo e se perdendo com todo o sentimento dentro da piscina.

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