Wednesday, September 13, 2006

Ela pegou a bolinha de silicone e jogou contra a parede. A bolinha bateu no chão e voltou pra sua mão.
- Nada. Eu não tenho feito nada por mim. Não pelo meu presente. Dezesseis anos de investimento num futuro completamente incerto.
A bolinha roxa e transparente brilhava à medida que passava pelos raios de sol, que invadiam o quarto pelas frestas da persiana.
Ela jogava com força na parede pouco distante. A bolinha hora brilhava, hora permanecia fosca. E pingava do chão até as mãozinhas brancas e sensíveis da menina sentada.
Mais uma vez ela jogou a bolinha contra a parede, pensando no tio. Ele é relativamente novo. Com seus 38 anos ainda não terminou os estudos. Faz milhares de planos como um adolescente. Decidiu que vai voltar a estudar e mudar sua vida. Está bastante animado. Mas ele não sabe que tem apenas três meses de vida, de acordo com as estimativas do médico. Ele também não sabe que seu pai, que morreu na última sexta feira, havia desistido da vida pra não ver o filho sendo enterrado.
A bola bateu na parede, pingou no chão e voltou pras mãos.
- Eu gostaria de saber a verdade se estivesse no lugar dele. Assim eu poderia viver intensamente pelo menos três meses dessa existência. Ele vai morrer sem viver direito. Ele vai morrer pensando no futuro que não viverá e o presente terá sido ignorado.
Ela agarrou a bolinha com raiva. Abriu a mão, olhou, apertou com força e jogou na parede. A bola bate, pinga e volta.
Seria mais fácil adotar as crenças da mãe. Acreditar em vida no paraíso após a morte. Assim ela poderia continuar pensando só no futuro, como é obrigada a fazer. Mas não sofreria por isso. Talvez seja mesmo mais fácil não saber a verdade.
Ela deitou, afundou na cama. E a vida pesou no seu corpo frágil. Ela sentia um nó na garganta, mas ignorava.
A bolinha pingou no chão várias vezes até parar.
A garota pensava no que tinha vivido, nas suas dores, nos seus arrependimentos e via que aquilo tudo infelizmente vai permanecer dentro dela. Seu corpo pesa mais. Ela vê o número de besteiras (número maior que o normal) cometidas por ela no passado. Será que num possível futuro ela vai se arrepender tanto assim do que faz hoje em dia? Ela já não se entrega mais às pessoas como antes. Ninguém sabe ouvir, é humanamente impossível entender a dor do próximo. Não há muita coisa pra se arrepender, quase nada. Ela se encontrava num estado deprimente de normalidade.
Uma dor horrível tentava consumir aquele coração. Necrosava primeiramente as partes mais sensíveis, caminhando para as mais fortes, seu sustento.
Ela pensava em todas as pessoas envolvidas nas suas dores e seu coração doía mais. Seu corpo afundando na cama, forçado por uma força não aparente. Ela sentia vontade de chorar, gritar e correr.
Sentou-se novamente na cama, respirando fundo pra não chorar e ter que enfrentar frases como: “Por que você está chorando?”; “Eu sei como é.”; “Eu já passei por isso.”; “eu vou te levar pra conhecer o que é vida ruim.”; “Vai estudar, tristeza é falta do que fazer”; entre outras besteiras que dizem nesses momentos. Deitou de novo.
Respirava fundo, começando a entender uma questão importante pra sua vida: isso é se tornar adulto. Seu coração, psicologicamente, vira uma carne morta, necrosada, biologia. Você para de sentir...
E antes de terminar seu pensamento, de concluir que isso estava acontecendo cedo demais com ela, sua mãe entrou no quarto dizendo:
-Que quarto escuro! Vai estudar! Suas notas estão baixas e você vive pra isso: estudar! Não vou ficar discutindo.
Ela se sentou, recuperou a bolinha que bate, pinga e volta. Ela sente suas pálpebras pesadas, mas não tem sono. Ela percebe em si o olhar frio que agora tomou conta do seu rosto. Olhar frio, morto, conformado, enjoado.
Voltou a estudar.

Tuesday, September 12, 2006

Ela saiu de casa super feliz com a notícia. Foi correndo contar pras amigas. Poderia fazer a primeira viagem sem um parente pra vigiar. Não conseguia conter a felicidade, a ansiosidade. Saiu pulando na rua. Olhou pros lados antes de atravessar. Foi saltitando, rindo sozinha. Caiu, quebrou o pé direito. Um carro virou a esquina rápido e atropelou a menina, que morreu instantaneamente.

Thursday, September 07, 2006

Fuma um cigarro, engole a lágrima e vai dormir.

Tuesday, September 05, 2006

Tem uma força maior empurrando pra baixo.